terça-feira, 11 de outubro de 2016







E então,hoje em um acaso,encontrei este vídeo de Krishnamurti, com o título da conferência: "Acabar com todo o medo. Como um aprende sobre si mesmo". Trata da mesma questão do post anterior. Então deve ser observada com atenção... Não me interessa descrever o vídeo, mas deixá-lo aqui registrado, para quem quiser observar a si mesmo e ao observado, que observa o observador....e assim por diante...





 Acabar con todo el miedo - 2. 
¿Puede la mente estar completamente libre del miedo?



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Neste texto pretendo falar sobre as diversas facetas da afirmação do mal como algo onipotente e extremamente poderoso, e contra o qual a luta é muito árdua e difícil. Pois bem. Para a existência do bem deve haver a existência do mal? Ou melhor, o mal deve ser afirmado pelo bem para manter a sua existência?
O desenvolvimento arquetípico do diabo está ligado à afirmação do mal como algo externo ao homem, como algo que não consta no divino, contrário à noção de bem.
Sendo assim, estava aqui pensando, enquanto leio " O diabo no imaginário cristão", de Nogueira, imaginei algo. E se não existisse o conceito de bem ou mal?
Se o mundo fosse todo no meio. Equilibrado. Sem contra-pesos, sem oposição, sem diferenças, sem, portanto, preconceitos, sem violência, sem julgamentos, sem desejo( será?), na extrema harmonia.
Tedioso?
Vamos imaginar a cena:
As pessoas não se preocupariam em fazer algum pecado. Pois o mesmo não existe. Também não iriam querer nada daquilo que excedesse as suas possibilidades, pois se não existe bem e mal, também não existe sim e não, também não existe contrário, e assim, não existe escuro e nem claro, não existe paraíso e nem inferno, chegamos ao que podemos,( será? )ousar dizer que teríamos o mundo do nada.
Mas e não é justamente isso que buscamos?
E se o nada existisse, ainda seria nada em sua existência. Essa vale uma busca. A verdadeira busca. Da dúvida, da questão inicial, de tudo aquilo que perturba nosso pensamento de existência humana e terrestre, e não terrestre, e universal. NADA. É a resposta.
Então, voltando ao mundo do equilíbrio, seria esse o mundo do nada?
Equilíbrio total e completo. Com tudo o que há de harmonia incluso, Não há bondade e nem maldade, não há verdade e nem mentira. Naõ existe certo e errado. Não existe contraste, não existe trevas e também não existe luz, ou só existe luz, ou só trevas, ou o que quer que seja o nada. Que não é nada daquilo que pensamos, ou melhor é nada daquilo que pensamos, ou, não há antítese e nem não e nem nem. E muitas palavras não existiriam. Cabe lembrar que aqui devo usar a antítese para explicar a ausência. Mas também pensando. Se há tudo, há nada. Então se há tudo em equilíbrio, o nada, aí deve existir. Mas se não há antítese, existiria a realidade?
Porque sem contraste nada se define, tudo é uma coisa só.
Seria essa a verdade do universo e será que é para isso que estamos aqui na Terra?
Para experimentarmos exatamente o oposto do caminho do nada, de onde, quem sabe viemos.
Sendo assim.
O constructo do mal fundamenta o pensamento de bem existente em nossa cultura mundial. Sem existência do mal, o  bem existiria, ou já não seria bem, seria o que é?
Será que estamos a caminho do nada ?
Ou esse caminho de dualidade não é meio ilusório não?

Há milênios a humanidade tem tentado encontrá-lo, mas até agora deixou apenas alguns vestígios, em forma de misteriosos enigmas, que talvez somente os mais sábios alquimistas poderiam decifrar. Procura-se o nada.

Há uma descrição breve dele em uma música infantil, indicando que talvez as crianças saibam de seu paradeiro. Como diria na música:
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela,não
Porque na casa
Não tinha chão

Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali

Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero

Mais ou menos assim seriam as casas no mundo que encontra o nada...Só pra ter uma idéia..
Me faz rir é claro, mas como ninguém conhece o verdadeiro nada, o nada mesmo, aquele que é nadinha de nada...vai saber, não é?




terça-feira, 28 de julho de 2015

Brasileiras no Edinburgh Fringe Festival 2015

Todos os anos, desde 1947 ocorre o Fringe Festival na cidade de Edimburgo na Escócia. Este festival é considerado o maior festival de artes do mundo, e nele muita arte é produzida e apresentada, tendo um público de cerca de 1 milhão de pessoas a cada ano O festival ocorre durante todo o mês de agosto e os participantes podem assistir a apresentações de rua, em teatros, bares e locais que dispõe seu espaço para arte. A cidade respira arte, em uma riqueza de formas e figuras artísticas. Vale a pena conferir. Neste ano ocorrerá concomitantemente ao festival o Best of Burlesque ( Melhor do Burlesque) com o World Burlesque Games, uma competição anual de burlesco organizada pelo maior produtor internacional desta arte, Chaz Royal. Venho neste post para dizer que fomos selecionadas, eu ( Ella Exotique) e minha querida pupila, Amanda Moon, para participarmos das semi-finais que ocorrerão lá no festival.
A partir de então iremos dando informações dos preparativos da viagem, nossos ensaios e movimentação, além de quando estivermos lá, mostrar um pouco do que é participar de um festival deste porte.
No vídeo que segue, podem conferir uma pequena mostra do que vamos dançar por lá, além disso podem nos auxiliar a divulgar e mostrar que nosso país também produz burlesco de qualidade for export.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

De onde o burlesco surgiu em minha vida?

Olá, hoje senti vontade de contar o porquê do burlesco em minha vida, o seu significado e seu desenrolar. Há algum tempo, contando histórias para algumas amigas, recordei-me que quando criança haviam algumas coisas que me fascinavam na televisão brasileira. A citar, as taças gigantes do programa do Gugu, em que as bailarinas dançavam em pé. Estas eram lindas e sempre imaginava que poderia dançar em uma daquelas também. As propagandas de cigarro, do Carlton, amava! Havia uma em especial, em que ao fundo surgia um vulto com uma mulher vestindo um largo chapéu, sob a trilha sonora de um envolvente jazz. Tal influência me fez inclusive fumar quando adolescente! Achava o máximo! Outra coisa que me envolvia eram as dançarinas do É o Tchan, admito, adorava! Sabia muitas coreografias e achava que um dia poderia ser a morena do Tchan. Isso já indica minha adoração pela dança de modo geral. Além destes programas, comerciais e artistas, havia um programa que poucas pessoas lembram que existiu, chamado Coquetel, no Sbt, em meados de 1990. Vou deixar o link para conhecerem: https://www.youtube.com/watch?v=MKNBkKifOks .  Assisti poucas vezes, era bem pequena, mas era insone, então acabava assistindo todos os programas adultos da madrugada. Lembro de ver meu pai assistindo algumas vezes. Era um programa de striptease, que se passava em um navio, as pessoas iam tirando a roupa, tanto homens quanto mulheres, a diferença era que as mulheres ficavam com os seios à mostra e ao final do programa tinha o striptease especial em que as mulheres tinham estrelinhas ou frutinhas para tapar seus mamilos. Enquanto criança eu assistia àquilo fascinada, achava lindo! Lembro de ser algo visto com tranquilidade, não sentia vergonha ao ver, pois em minha casa a nudez era vista como algo normal, natural, sem maldade. Acredito que por este motivo a minha concepção de nudez e de arte também foi para este lado, por ver o nu como algo belo, artístico e puro. Com o tempo fui percebendo que a maldade está na cabeça das pessoas, que com seus julgamentos deturpam o significado do nu. Mas enfim, em minha história com a dança fui entrando em diversos caminhos, alguns tortuosos, e que me servem de muito aprendizado. E ainda tem muito pela frente! Muito a aprender. Danço desde 1998, sempre na Dança do Ventre, Ginástica Olímpica e um pouco de Jazz. Em 2010 eu descobri que a dança que fazia era uma dança do ventre diferente, tinha uma pitada de algo que eu não conseguia identificar. Na época me senti desolada, até que fui descobrindo outras danças e descobri que o que fazia mesmo era Burlesco. Comecei a estudar e estudar, e descobri um novo mundo, um mundo onde a criatividade pode me levar e meu corpo pode ser livre e exposto. Onde meu corpo além de dançar também é uma pintura, também é estético, que não necessita de padrões, de regras. É livre em sua arte! Sendo assim, o que sempre quis dançar foi burlesco. Tive o prazer de conhecer neste caminho a Nani Lima, minha colega, amiga e parceira, que me acolheu em sua escola ( Maria Gitana), me ensina a dança cigana ( minha outra paixão) e que hoje trabalhamos juntas no que chamamos de Arte Livre. Partimos da técnica ao sentimento e vice-versa, observamos, sentimos e auxiliamos ao bailarino e aluno descobrir o que ele tem que nos mostrar, o que ele deve trabalhar na sua dança para curar as suas feridas interiores, para superar o ego e dar conta de sua veia interior com a realidade de si neste mundo.
Quanto ao meu processo interno, percebo que o Burlesco faz a junção das minhas questões infantis e do meu eu mulher, e dentro deste processo, vou me dando conta de meus arquétipos internos, das minhas fantasias, e as vou interpretando, sempre no decorrer de meu processo criativo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

História do Burlesco - Parte II


Ao contrário do que se pode pensar inicialmente, o burlesco não se tratava de belas moças que em suas esquetes tiravam a roupa , antes ainda , deve-se pensar no burlesco enquanto comédia, mais aliada ao teatro do que à dança propriamente dita. No auge dos shows de Burlesque, haviam artistas, cantores, e coristas, que se tratavam de mulheres que dançavam em sincronia nas esquetes dos comediantes e entre elas. Nos anos entre 1840-1860, o burlesco apresentado na Inglaterra era direcionado à classe baixa e trabalhadora, representando o sexo como tema de fundo de suas apresentações, é considerada a parte ignorante do Show Biz.
Lydia e seu marido
Lydia e a sua troupe - 
Little Egypt
Irmãs Barrison - Sister Act
La Belle Otero
Liane de Pougy
Cláo de Merode
Emilienne d'Alençon

O Burlesque chega aos EUA por volta de 1860, com Lydia Thompson, em um momento muito propício, já que o estilo Vaudeville já era muito badalado pelos norte-americanos. A britânica Lydia Thompson foi a primeira estrela burlesca e foi fundamental na exportação do estilo à América.
Em 1868 sua troupe burlesca – The British Blondes, ou “loiras britânicas – se tornou uma das maiores atrações teatrais de New York. Esta tinha um contrato de apenas 6 meses de duração , o que acabou durando 6 longos anos de turnê. Com seu primeiro hit Ixion, uma paródia mitológica que continha mulheres em colãs reveladores fazendo papel de homem. Mulheres semi- nuas interpretando agressores sexuais, combinando grandes figurinos com uma comédia insolente – numa produção escrita e dirigida por uma mulher,impensável para a época. Esta em que mal se viam os tornozelos das moças, Lydia lança algo revelador, mulheres em collants que revelavam suas formas e curvas. Lydia retorna à Londres em 1874 para fundar seu próprio teatro. O sucesso de Lydia lançou uma explosão burlesca. Mabel Saintley se tornou a primeira estrela americana nativa. A partir de essa data, o burlesco foi uma misto de atores de comédia masculinos com uma pernas de mulheres à mostra, sem faltar, é claro, música e dança.
A dança burlesca e as práticas tease fizeram muito sucesso nos EUA, e foram cada vez se desenvolvendo mais e mais. Em 1893 surge outra artista denominada Little Egypt que aparece em “Les Rue du Caire”na World's Columbian Exposition, em Chicago. Apresenta um tipo de dança do ventre chamada de Dança Hooch. Tal bailarina foi imitada por diversas outras bailarinas (alguns referem mais 2) que se autodenominavam Litlle Egypt também.
Do final do século XIX até meados de 1920, o Burlesque tinha muita semelhança com o Vaudeville, que se concentra mais na sátira e no teatro clássico, com textos cômicos e picantes. Neste contexto surgem as Irmãs Barret, com o Sister Act, um grupo de mulheres que atuam ser irmãs e cantam e dançam músicas, como a ousada “Would you like to see my pussy?”, feita pelas Irmãs Barret. Faziam este número levantando a saia e mostrando as suas calcinhas.
               No mesmo período, na França, e expandindo-se à Europa, surgia a Era das Mulheres, chamada de Belle Époque, período que diz respeito ao final do século XIX, por volta de 1870 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Começam a se destacar, nesta época, a mulher e suas formas. Surge a Art Nouveau, nova tendência do momento, em que os artistas representavam as mulheres em sereias, deusas, ninfas, valorizando suas formas e curvas, inspirado nas formas naturais ,trazendo sempre o movimento às suas pinturas.


Emilienne d'AlençonOs ícones da época, as Femme Fatale deste período são as cortesãs: La Belle Otero, Liane de Pougy , Cláo de Merode, ou Emilienne d'Alençon. Por sua reputação e poder sobre os homens, estas mulheres estabeleceram suas carreiras no recém-fundado Folies-Bergère, local para entretenimento masculino, em que haviam dançam com toques de sedução, comédia, arte circense, canto, música, enfim, diversos números em que os artistas se apresentavam no decorrer dos espetáculos.


Vinte anos mais tarde, em 1889, é aberto o Moulin Rouge, outro de music-hall. O público, bem como artistas fazem parte da classe trabalhadora. Os bailarinos atuantes no Moulin Rouge são conhecidos por terem criado o que é chamado de Cancan francês dança em que as meninas jogam suas pernas no ar mostrando suas pernas cobertas com uma meia 7/8 detida por fitas, uma espécie de liga, suas calças bufantes(muitas vezes transparentes para a má qualidade do algodão).La Goulue, artista da época usava em sua calça, um coração bordado em vermelho. Essas mulheres, sem saber, abririam o caminho para uma arte e toda uma geração de strippers e bailarinas burlescas.

Em outro music-hall próximo ao Moulin Rouge, no bairro Montmartre, que ocorreu um dos primeiros considerados stripteases da história. A atriz e bailarina Blanche Cavelli, em seu número Le couché d'Yvette tira, em um de seus números, as suas roupas domésticas, uma a uma, ficando apenas com suas calças bufantes e corpete ao final da dança, deixando um mistério e aquele gosto de quero mais em sua audiência masculina. Tal número, inicia uma série de outros que se assemelham a este, ficando com pouca roupa no final, nenhum terminava sem nenhuma peça de roupa, com o tempo foram sendo marginalizados e levados às periferias das cidades européias.
Em 1893, Oscar Wilde escreve em francês a peça Salomé, em que a personagem pede a cabeça de São João Batista, e em homenagem ao feito dança a dança dos Sete Véus enquanto recompensa. Três anos mais tarde, foi encenada uma peça com tal dança, sendo este o primeiro número deste estilo de dança burlesca, encenado até os dias de hoje. No ano seguinte, a França começa a ver os números de nudez no palco, com atores vestindo ternos feitos de meias cor da pele, uma espécie de collant feito desta forma, representando o número chamado Tableaux Vivants, ou melhor, lona viva, muito em voga na Academia Francesa. O Folies-Bergère passa a colocar mulheres nuas , muitas vezes imóveis, em cada fundo de cena, em candelabros gigantes, cobertas com faisões.
Fonte:
http://www.soburlesqueblog.com/search/label/01%20-%20HISTOIRE%20DU%20BURLESQUE
http://artmuseumteaching.com/2012/12/06/tableaux-vivant-history-and-practice/


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

História do Burlesco - Parte 1 - As origens

Bom dia, hoje começo falando sobre um outro tipo de dança em que tenho me especializado e estudado bastante. Trata-se da dança Burlesca. Como toda a dança acho importante conhecer um pouquinho da história para podermos compreender seu repertório de movimentos e as suas intenções. Assim alcançamos cada vez mais uma dança com um sentido próprio, que alcança aos nossos espectadores. 
Quando falamos do termo Burlesco, podemos encontrar aqui uma história um pouco mais longa, a ser iniciada na literatura e nos sátiros greco-romanos. Vamos ao termo. Ao pesquisar no Houaiss, percebe-se que tal termo tem muito a ver com a comédia e suas variantes. Enquanto adjetivo é relativo a comédia; cômico, que provoca riso ou zombaria, frequentemente por sua extravagância ou ridículo, sendo grotesco, caricato, ridículo e ainda burlador, zombeteiro e trocista, aquele chamado de burlesco.
Enquanto substantivo o termo indica qualidade do que é cômico, ridículo, extravagante e na literatura, e teatro trata-se da paródia, satírica ou trocista, que traveste o nobre em vulgar e vice-versa, p.ex., imputando objetivos altaneiros e brilhantes a personagens de tramas chãs; bufo. No teatro nos E.U.A., cabaré ou music hall humorístico, com danças de natureza erótica. Na etimologia da palavra , tal vem do termo italiano burlesco, que possui o mesmo sentido relacionado ao cômico, à brincadeira e provocação. Já o termo Burlesque refere-se ao teatro nascido na Inglaterra no século XVIII, de gênero satírico. Ainda, na busca no dicionário italiano online Hoepli, faz-se referência aos Estados Unidos, local em que o gênero teatral é mais comum. Tratando-se, portanto de espetáculo popular no estilo de show de variedades, com cena satírica e, mais recentemente, números de striptease.  Ainda ao se tratar do termo, pode-se perceber a sua origem do latim burrula, com o diminutivo - burra- também relacionada ao cômico, mas significando farsa, burla, brincadeira, termo que dá origem ao italiano burla. 
Para ilustrar, este quadro de Valeri Jacobi chamado Bufonadas en la Corte de Ana I Ivanovna - obra do final do século XIX. A imperatriz está na cama, e ao seu lado seu todo poderoso favorito e ministro Biren, duque de Curlândia, governante de fato. 
O interessante de tal obra para ilustração do termo, é de que justamente critica e expõe ao ridículo a realeza da época, demonstrando costumes jocosos e com tons eróticos. Trata-se de arte burlesca. 
Para encerrar esta primeira parte, falo ainda um pouco da literatura, que já se sabe, possui o gênero satírico desde os gregos, em torno de 400 A.C., pode se encontrar itens de burlesco na comédia satírica grega e tragédia (ex:. Lisístrata, 441 aC, escrita por Aristófanes É sobre um grupo de mulheres que se recusa sexualmente aos seus maridos a fim de parar a guerra em Atenas). Na literatura, ele aparece pela primeira vez em Itália,ainda no século XVI. Muito em alta, durante o século 17, na França, o Burlesque aparece em forma exageradamente engraçada, informal, e às vezes de uma forma paródica vulgar muito séria, com temas nobres na literatura especialmente epopéias, jogando sobre a diferença, o tom diferenciado na linguagem, mais cru e coloquial, contrária a linguagem acadêmica. (Ex: Le Virgile Travestie, de Paul Scarron, uma paródia de l' Enéide de Virgile, ou mesmo Gargantua ,de Rabelais).Muitos escritores da época era opostos à tal estilo devido às formas algumas vezes vulgares e aproximadas das classes mais baixas. Em 1600, sobe aos palcos a considerada primeira comédia Burlesca, uma sátira à shakesperiana "Sonho de uma noite de verão", chamada de " A mais lamentável comédia & a mais cruel morte de Píramo e Thibes."

Fontes:http://www.soburlesqueblog.com/search/label/01%20-%20HISTOIRE%20DU%20BURLESQUE

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de

Janeiro, Ed. Objetiva, 2001. 

http://www.burlesqueguide.net/burlesque_history.html

http://web2.crdp.ac-versailles.fr/pedagogi/Lettres/latin/forum/Enee/Atef_Enee/enee.htm




quinta-feira, 1 de março de 2012

Conceituação de dança



Definir o conceito da dança é algo controverso, isto posto que existem diversos conceitos
diferentes a respeito da mesma prática, sugerindo-se que a sua definição seja algo necessário no que
se refere a este trabalho. A dança, de acordo com a definição do dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa (2009) é o conjunto organizado de movimentos ritmados do corpo e acompanhados por
música. O verbo dançar é definido como movimentar o corpo com intenção artística, obedecendo a
um determinado ritmo musical ou como forma de expressão subjetiva e dramática, ou executar um
movimento corporal ritmadamente, ou ir de um lado para outro desordenadamente, balançar oscilar.
O dicionário Aurélio(2009) traz uma definição bem semelhante e acrescenta o sacudir e agitar-se,
girar, rodar, mexer-se, movimentar-se. Tal definição de dança é muito ampla para entender o que
realmente é a dança, pois existem outros movimentos que são ritmados e não necessariamente
caracterizam-se por dança, como por exemplo o remar, caminhar, pedalar. Por tal motivo far-se-á
aqui uma explanação acerca da dança e sua evolução até os dias de hoje, visando a compreensão da
palavra e o sentido utilizado no trabalho.

Além destes conceitos e definições de dança advindos dos dicionários em português,
pretende-se ir mais a fundo na etimologia da palavra. Vista a etimologia no dicionário etimológico
Nova Fronteira (Cunha, 1986) e do Nouveau dictionnaire étymologique ( Dauzat, Dubois &
Mitterand, 1964), nota-se se que a palavra dança vem do antigo francês dencier, que atualmente se
fala danser, derivado do frâncico dintjan, traduzido ao português como mover-se de cá para lá. O
termo danser data do final do século XII. Para uma conceituação mais completa, buscou-se
subsídios na própria língua francesa que define a dança como sequência de saltos e passos regrados
por uma cadência e geralmente conduzidos por música. No Dictionaire de la langue française o
conceito de dança é ampliado também para o grupo, sendo definida como a ação de várias pessoas
que dançam. Também refere o sentido da dança como mímica e forma de se exprimir pela
pantomima originada na Grécia. No dicionário tem-se uma breve discrição da dança pantomima
como uma imagem da guerra, geralmente executada com armas nas mãos dos dançarinos. Há uma
referência de que a dança na sua formação inicial seria uma dança de imitação que teria perdido a
sua característica conforme os povos foram se expandindo. (s/d)



Para compreender a dança é importante voltar à sua história e então entender como esta se
manifestou desde o que se tem de relatos a seu respeito. Portinari (1980) apresenta em sua obra
relatos acerca da dança que datam do período Mesolítico, a partir de uma pintura encontrada na
Espanha que demonstra nove mulheres em torno de um homem despido, induzindo a um ritual de
fertilidade. Esta é a mais antiga imagem da dança encontrada de acordo com a autora. Outras
imagens sobre a dança foram encontradas, com pinturas rupestres representando danças circulares, e
o tocar de instrumentos, com a utilização de peles de animais como máscaras ou acessórios rituais.
(Lommel, 1966).
Wurzba (2009) afirma que estes povos primitivos se cerceavam da dança devido à
impotência frente aos fenômenos naturais, tendo uma necessidade de estabelecer um vínculo maior
com a natureza em busca da compreensão dos fenômenos inexplicáveis da natureza. Sendo assim,
dançar tinha o sentido de trazer a harmonia com as forças do cosmos. A autora refere ainda que nas
tribos de caçadores o homem imitava os animais em sua dança, na crença de que, desta forma,
obteria mais força para capturá-los, do mesmo modo para apropriar-se do poder animal e aumentar
o número de animais comestíveis para a caça.

É provável que o homem primitivo tivesse a consciência de que seus movimentos e gestos
só obteriam um efeito magico ou encantatório se fosse executados dentro de certas regras e
medidas, não necessariamente regulares ou aparentes, mas que os tornavam um conjunto
homogêneo e fluente no tempo. Quando tinham enfim sua duração no tempo dividida em
determinados intervalos, dentro de um ritmo. Este último poderia ser interno ou externo, marcado
de variadas maneiras, ao som ou não de música seria o ponto de partida, uma atividade que se
desenvolve no espaço e num tempo determinado, cuja configuração é o ritmo. ( Mendes, 1985)
Com o advento da agricultura, o homem passou a depender ainda mais do conhecimento
acerca da natureza, tendo um controle dos ciclos lunares, os antepassados e o ciclo das mulheres.
Surgem assim as danças relacionadas à fertilidade da terra, das criaturas e das mulheres. Também
para celebrar as colheitas fartas, e atraí-las com a dança. Seguindo na história, avançando alguns
milênios para as civilizações da antiguidade, percebe-se um desenvolvimento significativo da
dança, também voltada à fertilidade, em cultos à Grande mãe observados nas civilizações do
Oriente Médio tais como a Suméria, com registros de 6500 a.C. e Egito com aproximadamente
4500 a.C. .(Wurzba, 2009 ; Bencardini, 2002)


Na Grécia a dança estava associada ao Olimpo, ou seja, aos deuses, tendo relações com a
fertilidade, nascimentos, contra doenças e morte. É originada, provavelmente, dos ritos extáticos do
culto a Dionísio que datam cerca de 6000 a.C. na região da Turquia. Surge na época dos conhecidos
filósofos gregos, o primeiro registro da filosofia em relação à dança. Para Sócrates, citado em Platão
e Xenofontes, a dança é algo que deve ser aprendido, como uma atividade que daria proporções
corretas ao corpo trazendo também uma reflexão acerca da estética e da filosofia. Platão refere-se à
dança como algo a ser integrado na educação, diferenciando a dança nobre da dança ignóbil. Sendo
que a primeira seria aquela bela e correta, da nobreza e a segunda algo feio e que deve ser banido,
referindo-se provavelmente às danças folclóricas. (Lommel, 1966 ;Portinari, 1989)
Neste aspecto começa-se a ser feita uma diferenciação da dança, entre a dança dos nobres e
a dança da plebe. Posto que a referência trata da civilização ocidental, na qual já inicia uma
diferenciação acerca dos tipos de dança. A dança é uma comunicação direta do ser humano com o
meio externo. Esta dispensa o uso do verbal, utiliza-se somente da mensagem do não-verbal aliada à
conceitos de estética e rituais. Esta tem a sua função para reverenciar deuses, encorajar guerreiros,
festejar colheitas. Também alia-se do caráter sacro, mantido em culturas e religiões primitivas.
Além disto, integra forças naturais, aguçando os instintos e diminuindo o medo. Também foi
revestida para ser parte de algo real, o que culmina com o nascimento do ballet. Assim, a dança se
divide em duas: uma que admite a origem do homem, vinculada a ela como uma manifestação
espontânea, e outra codificada segundo a aristocracia. As formas de dança foram caminhando
conforme as culturas foram se desenvolvendo. E a dança se divide novamente em sagrada e
profana, uma para os rituais e outra para a diversão. (Bisconsin, 1994)

Antes do nascimento do ballet, cabe descrever um pouco da dança em Roma, realizada por
sacerdotes dançarinos vestidos com capacetes, escudos e espadas na intenção de afastar os espíritosmalignos. Havia outra forma de dança realizada pelos patrícios e pela plebe, que festejavam as festas saturnais e lupercais, as quais tinham bases religiosas porém com celebrações regadas a
excessos sexuais e de álcool. A dança que era realizada pelos romanos foi banida pelo cristianismo,
sendo provavelmente reintroduzida pelos alemães na Europa.( Dauzat, Dubois & Mitterand, 1964;
Portinari, 1980)
A dança não pôde ser banida da sociedade, que teve que encontrar novas formas de
expressão coletiva. A dança era realizada na Idade Média, inclusive dentro de igrejas, tiveram que
ser adaptadas ao culto religioso e cristão. Neste período surge a dança macabra, que surge do pânico
em relação às doenças epidêmicas e à morte. Esta dança tomou diversas formas, tendo seu período
de expansão por volta do século XII. Algumas são relacionadas à cura, outras para expressar a
morte, outras demonstrando o que causaria o pecado, na insanidade das pessoas e na Ira divina,
outras realizadas como que em uma histeria, realizadas ininterruptamente durante horas em formas
de círculos remetendo às antigas danças pagãs. (Portinari, 1980)
A forma expressiva da dança encontrada nos relatos antigos remete à um uso da dança
voltado aos rituais e ao divertimento mais recente na sua história. Percebe-se que o homem se
utiliza da dança como forma de chegar ao sagrado, como forma de descoberta daquilo que não pode
compreender. No sentido do divertimento a dança toma outras formas, como meio de celebração,
excessos e voltada ao hedonismo, como percebe-se na sua história em Roma. Com o passar do
tempo e com a diferenciação da dança aristocrática da dança da plebe e folclórica, a dança foi sendo
definida tecnicamente e colocando-se em outro plano além do plano cotidiano que é o plano aéreo
visto no ballet. (Reis & Zanella, 2007; Portinari, 1980)

O ballet surge juntamente com o renascimento, época de refinamento das artes. Com as
festas pomposas e grandes jantares, surgem também as danças requintadas, inspiradas nos temas
dos alimentos, dos astros, das guerras. As vestimentas eram também ostentadas, com plumas,seda, e
pedras preciosas. Para a criação e desenvolvimento destas apresentações, surgem, neste período, os
mestres de dança, contratados para fazer a marcação coreográfica e ensinar os passos baseados no
tema indicado pelo nobre que os empregava. O mais famoso deles foi o italiano Domenico de
Piacenza que escreveu o primeiro tratado de dança conhecido. Neste descreveu uma classificação
sistemática de movimentos a serem realizados, dentre eles o simples, duplo, retomada, parada,
reverência, meia volta, volta completa, elevação e salto. Estes como movimentos naturais. Os outros
são considerados acidentais, ornamentais e complementares , tais, o passo lateral rápido, a batida e a
pirueta. (Portinari, 1980)
Contemporâneo à Domenico, o autor, poeta e dançarino Cornazano, em seu livro “ Livro
sobre a arte de dançar”, descreve a distinção entre a dança popular e a aristocrática, explicando que
a arte nobre se realiza em torno de um enredo ou fábula definida. Dá o nome a esta prática de
balletto. Vão surgindo muitos outros tratados de dança, com mais regras e definições técnicas, até o
surgimento do ballet de corte, com seu apogeu no reinado de Luís XIV. Para o conhecimento desta
história da dança, há um importante documento escrito em 1588, a Orchésographie de Thoinot
Arbeau, em que coloca a dança como uma benção divina traduzida pelo homem em movimentos,
assim como estipula as regras fundamentais para as cinco posições do ballet. Em 1669 foi criada a
Académie Royale de Musique, que tinha uma escola de dança, sendo a futura Ópera de Paris. Entre
esta data e o início do século XVIII Beauchamp, mestre de dança, fixa as posições do ballet, tal
como são realizadas até hoje. (Portinari, 1980)
O ballet foi se desenvolvendo, passando pelo ballet ópera, o ballet d'action, mais
expressivo, ao ballet pantomima, até se tornar o ballet profissional. Assim, da França o ballet é
disseminado por toda a Europa. Com o advento do romantismo, a valsa toma forma e se expande
pelos bailes e salões do século XIX. O pas de deux iniciado pelo ballet toma a sua forma ao público
pela dança de salão, que antes do desenvolvimento do ballet já tinha uma dança de casais que era a
basse dance( século XIV), base para o ballet. No seu surgimento, a dança de salão era dançada pela
aristocracia, sendo reservada apenas à corte. E é nesta que surge a valsa, dentre outras modalidades
de casal, sendo considerada um grande avanço para a dança, pois permitia as mãos à cintura da
dama pelo cavalheiro. Esta prática foi levada aos países colonizados pelos europeus, tendo suas
misturas em cada um deles, e a criação de novas danças de acordo com as culturas, por exemplo,
no Brasil o samba de gafieira, em Cuba a cumbia, o swing nos Estados Unidos, o tango na
Argentina e muitas outras que tiveram influência desta prática europeia, além das influências
africanas e da própria cultura local. (Portinari, 1980)

Percebe-se que a dança é submetida às implicações culturais, sociais, políticas e econômicas,
isto pela divisão que ocorre neste meio, tendo danças aristocráticas e folclóricas, mas também
quanto ao seu desenvolvimento enquanto manifestação artística. Em todas as culturas em que foi
levada, a dança sempre sofreu modificações de acordo com o momento em que a sociedade se
encontrava, pois trata-se de uma expressão advinda das pessoas participantes deste meio social.
Desta forma, a dança representa muito da cultura do seu povo, mesmo tendo a sua técnica
proveniente de outro país, ela se adapta à realidade, sendo sempre uma arte do presente, do agora,
não importando de onde surgiu a sua técnica ou inspiração. Tendo em vista que a dança é algo
construído no presente, e que representa algo que se quer demonstrar ou dizer que faz parte da
realidade atual.

Na sociedade contemporânea, a dança toma outras formas além das descritas na
historicidade da dança, surgem os grandes nomes da dança contemporânea e moderna, Isadora
Duncan e Martha Graham são alguns destes nomes, a primeira representando a natureza e seus
fenômenos, e a segunda voltada ao homem em seu próprio ritmo natural. A dança contemporânea
tem a sua aplicação na atualidade com diversas vertentes e dissidentes, a todos os momentos coisas
novas são criadas, visando demonstrar o homem em sua realidade cotidiana. Passando por este veio
estilístico, indo de encontro à população em geral, têm-se a dança de salão. Esta que domina os
salões e escolas de dança da atualidade. (Almeida, 2005)

A dança de salão possui diversas modalidades e expressões rítmicas, sendo executada
inclusive para fins competitivos. A prática competitiva é diferente da prática nos salões, pois exige
do participante uma alta concentração podendo também elevar os seus níveis de estresse devido ao
alto grau de exigência e cobrança. A dança de salão competitiva, denominada DanceSport em 1980
ganhou seu espaço na cultura americana, sendo reconhecida como um esporte olímpico em 1997. A
autora McMains afirma que a dança competitiva tem seu esplendor e monstruosidades, estas
advindas da cultura do glamour americano. Referindo-se a este último como uma máquina de
glamour. Muitas pessoas começam a dançar a dança de salão para alcançar este glamour vendido
pela mídia, sabendo que mesmo sendo amadores podem encarar competições para este referido
público. Percebe-se neste sentido, a dança como um produto, manipulado pela economia capitalista.
( Rohleder; Beulen; Chen; Wolf & Kirschbaum, 2007; McMains, 2006)

Além da dança de salão competitiva, existe simplesmente a dança de salão, esta encontrada
nos bailes e festas com este intuito, e também esta aprendida nas escolas de dança para se dançar
com o parceiro, ou parceira, para dançar para algum evento, seja qual for o motivo pessoal que
motiva a pessoa a dançar. A dança de salão, devido aos seus inúmeros estilos, tem uma grande
possibilidade criativa a dois. É uma dança com algumas exigências, tais que necessita de um
parceiro para a sua execução, deve-se perceber o ritmo e a música, dominar os passos, manter a
elegância e a postura enquanto dança e estabelecer uma conexão com o parceiro, para que ambos
entrem em uma sintonia e consigam manter a dança equilibrada. Assim, dependerá das motivações
do sujeito que dança como este quer dançar, se com movimentos acrobáticos e aéreos, mais
exibicionista, ou executando apenas os passos pertinentes à dança de salão. A isto dependerá da
subjetividade de cada um e cada casal que dança. Cada qual pode criar as suas figuras de dança, ou
seja, o seu estilo dentro de cada dança. (Almeida, 2005; Volp, Deutsch & Schwartz, 1995)
A dança de salão é uma atividade, facilmente adaptável às habilidades individuais,sendo
acessível a qualquer gênero, e faixa etária. É uma atividade de dança aos pares que mantém contato
corporal entre si enquanto dançam. São duas as posições básicas de contato, a posição fechada em
que a dama é envolvida pelo cavalheiro que dispõe sua mão direita nas costas dela e suporta a mão
direita da dama em sua mão esquerda, ficando o casal de frente um para o outro, podendo deixar um
espaço livre maior ou menor em seu distanciamento que é bem próximo devido à posição dos
braços. Na posição aberta o casal tem mais espaço entre si, e o maior ponto de contato é uma das
mãos do cavalheiro que segura uma das mãos da dama. Os passos são uma variação do andar
associados a giros de diversas formas. Estes passos desenham o espaço dinamizando a estética e
visualização da dança. ( Volp, Deutsch & Schwartz, 1995)

Nesta repassada histórica , e com o panorama da dança no mundo atual, pode-se perceber que :

A dança é uma das formas mais antigas de comunicação criativa do homem.
Ela tem uma peculiaridade que a diferencia das outras formas de expressão,
que é o fato de existir sempre no presente. Ela é criada e recriada a cada
instante. Durante a sua execução, não há divisão entre criador e criação.
Tudo se realiza dentro e através do dançarino. O instante poético da dança
remete a uma vivência de eternidade. Essa dupla natureza da dança que
compreende a fugacidade do instante que passa e que também nos remete a
           uma dimensão atemporal, abre a possibilidade de contato com níveis mais
profundos de vivência e visão criativa da existência. (Almeida, p. 15, 2009)


O sujeito que dança entra em contato com a sua presença no mundo composto pela terra,
água, ar, fogo e éter. Neste mundo é aberto um espaço para a experimentação de como se localiza o
corpo, como ele é sentido neste universo de sensações, se ele é pesado, leve, comprido, curto,
flexível, rígido. Também se ele é dilacerado, incômodo, pode então vir a ser o lugar da experiência
de modos diferentes para a percepção do mundo, sendo pela sensação, pensamento, sentimento,
intuição, pela externalização ou internalização, ou mesmo pela completude entre os mais diversos
aspectos do ser humano. Por meio da dança o corpo torna-se poético, fonte de imagens, e inúmeras
sensações. ( Almeida, 2009)
Na dança percebe-se uma atividade passiva do ser humano. É nela que se exterioriza aquilo
que é interior, e isto tende a coincidir com a realidade. Esta exterioridade só é visível ao outro e só
existe para os outros, fundindo-se com a atividade interna orgânica que reconhece a si mesma. Na
dança o sujeito se consolida em sua existência e participa da existência do outro, o que dança no
sujeito é a atualidade, esta validada em seu valor externo, é o outro que dança em si. Desta forma, o
social na dança remete-se à vida de onde o corpo emerge para reinventá-la e expressá-la. A dança é
a estetização do movimento da vida. Viver é movimentar-se, e a dança é uma forma condensada e
estilizada da vida. A dança se alimenta dos movimentos da vida. (Bakhtin, 1979/ 1997; Reis &
Zanella, 2007; Garaudy, 1980)

Na dança todo movimento tem uma intenção. Esta faz da tensão muscular e do seu
relaxamento um movimento de dança, no qual um conteúdo ganha forma. Forma e conteúdo são
instâncias inseparáveis que se concretizam no corpo dançante. Uma dança, mesmo que com a
técnica perfeita, será sempre medíocre se o coreógrafo e o dançarino não tiverem nada a dizer. Um
movimento sem motivação é inconcebível para o dançarino. O aprendizado da técnica objetiva
naturalizar os movimentos construídos, isso é possível através da incorporação pelo sujeito que
dança. Sendo assim, a dança é o corpo transfigurando-se em formas. Aquele que dança transforma
seu próprio corpo, se molda e se remodela, se reconfigura. Quando a dança se manifesta no corpo, a
todo instante transforma esse corpo, multiplicando-o, diversificando-o, tornando-o vários corpos
que se sucedem. ( Garaudy,1980; Dantas citado em Reis & Zanella, 2007)
Porém, a dança não significa reproduzir uma forma. Esta por si só é fria, estática e
redundante. A técnica existe para limpar o movimento, trazendo clareza e objetividade ao mesmo,
não para reduzir o movimento à técnica, mas para ampliar o seu conteúdo e expressão, aliando o
movimento do impulso vital à técnica. Partindo-se da técnica, a dança é uma utilização de
movimentos e formas inserido em um ritmo pré estabelecido, no qual a dinâmica do movimento e a
energia emanada pelas tensões e contrações musculares faz com que o movimento possa ser forte,
rápido, enérgico e dinâmico. A dinâmica da dança é variável, dependendo da necessidade de
trabalho muscular e da intensidade emocional imbuída no processo. Esta se manifesta no
movimento, no qual é liberado uma força que se distribui nos contornos do corpo, ou pela sua
distribuição no espaço. (Gadens, 2001).
A dança é a capacidade de transformar qualquer movimento do corpo em arte. A dança
oferece um meio de expressão que envolve todo o ser humano. O movimento produzido por este
intermédio refletem o eu do indivíduo, sendo este o meio mais íntimo do ser humano. É a forma
mais pura de arte lúdica e expressiva passada através de movimentos e gestos. Além de conhecer o
seu movimento próprio, o indivíduo integra-se na cultura, descobrindo a expressão de seu corpo por
intermédio da cultura. ( Bisconsin, 1994) A dança como continuidade orgânica do homem com a
natureza humana em função da técnica, sempre em processo de recriação, de superação de si e das
ordens existentes, exprime as angústias, combates e esperanças do homem. Além disto, expressa a
tragédia, a mística, o heroísmo e a poesia, sendo na dança em que o homem vive no seu plano mais
elevado. (Garaudy, 1980)


(Texto retirado e adaptado de Susin, G. (2011). Jornada da Alma: Nas trilhas da dança rumo à individuação.( Trabalho Apresentado no 16º Encontro Nacional da ABRAPSO 2011) Disponível Resumo em: http://www.encontro2011.abrapso.org.br/relatorio/cadernoresumos

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